terça-feira, 19 de março de 2013

Explorando o Campo


Fundo de Origem: BIEV/LAS/PPGAS
Fonte:  Antropologia da memória do trabalho na cidade moderno-contemporâneo. CAPES 2009. Coordenação Dr. Cornelia Eckert.
Autora: Renata Ribeiro


Desci do ônibus e segui em direção a Rua Dr. Flores que nesta hora já se encontrava funcionando a todo vapor. Parei por alguns minutos e observei o movimento. Gosto de ver aquele monte de gente dos mais diversos lugares se movimentando. Alguns se dirigindo ao trabalho, outros já no trabalho, nas portas das lojas vendendo o seu produto e gritando: “aqui é mais barato, freguesa!”. Outras pessoas, especialmente na Rua Otávio Rocha, esquina com a Dr. Flores, sentadas liam o jornal enquanto o engraxate lustrava os seus sapatos. As floristas que se espalhavam ao longo de toda a rua ofereciam rosas das mais variadas cores.

Av. Otávio Rocha, próximo a Rua Dr. Flores.
Imagem 1:  Av. Otávio Rocha, bondes ao fundo. Meados de 1930. 
Fonte: meu-portoalegre.blogspot.com.br/2011/01/blog-post_8146.html
Imagem 2 e 3:  Av. Otávio Rocha atualmente. Fonte: www.centro-de-porto-alegre.info/2011/04/renner.html
Imagem 4:  Av. Otávio Rocha nos anos 1950. Autor Canazaro. 

Continuei caminhando e seguindo em direção ao Mercado Público. Naquela região não existem muitos prédios novos, há somente alguns poucos, o Mercado, o Chalé da Praça XV, e a prefeitura que tem uma arquitetura, que parece um “bolo de noiva”, cheia de babados. Logo, o céu parece maior, pois o campo de visão estende-se mais, o horizonte torna-se maior. Gosto de olhá-lo em meio à agitação da cidade.   

Seguindo em direção ao cais do porto, ainda na região do mercado, eu sentia o vento batendo em meu rosto e ouvia o barulho do saltinho da bota em contato com as pedrinhas colocadas por onde antigamente passava o bonde.  Ao fundo a música do violinista que sempre se encontra em frente ao mercado, misturando-se com a música dos índios que costumam passar o dia ali: tocando, cantando e dançando em troca de moedas. Parei no meio de tudo isso, pois quis observar com mais calma o que ocorria ao meu redor. Apreciando aquela manhã de porto Alegre que para mim é sempre leve e gostosa, apesar da agitação, pensei: “Acho que o centro de Porto Alegre me encanta justamente por causa de toda essa miscelânea de pessoas, com culturas, hábitos e táticas de vida diferenciadas.


Mercado Público
Fundo de Origem: BIEV/LAS/PPGAS  
Fonte: Acervo Benno Mentz Olavo Ramalho Marques - Envelope Calegare 

Voltei a caminhar. Já na Av. Mauá, foi difícil atravessá-la, em virtude da grande quantidade de carros que por lá passam. Cheguei ao Cais, próximo às 8h, entrei no local e caminhei em direção ao lago. Observei que aquele local encontrava-se delimitado por uma fita, que indica até onde os visitantes podem ir. Esta delimitação não tem mais que 20m, acredito. Por ali não havia nenhuma pessoa, o vento soprava forte e alguns pombos voavam baixo. Atracadas encontravam-se duas embarcações (uma delas me parecia ser de passeio e a outra um navio cargueiro). Bati algumas fotos da paisagem. Sentei-me e passei a olhar a água do lago que batia nos cascos das embarcações provocando um som gostoso, calmo. Levantei-me após alguns minutos apreciando a paisagem e segui em direção aos armazéns para ver se encontrava algum trabalhador que pudesse me contar um pouco de suas práticas cotidianas no cais, ou ainda quem sabe, um visitante. 

Quando eu já estava quase decidindo ir embora, encontrei um guardinha que se encontrava quase na entrada do cais. Apresentei-me e expliquei-lhe o que eu estava fazendo ali. Perguntei-lhe o seu nome, disse-me chamar-se (.........). Este era um rapaz de aproximadamente 25 anos, moreno, alto e magro. Também perguntei se o cais era sempre tão calmo. Respondeu-me com cara fechada, acredito que receoso com a minha especulação, que “normalmente nesse horário não tem movimento”. Tentei continuar a conversa, especulando a respeito do seu dia-a-dia naquele local, mas ele não quis dar-me muita conversa. Sucinto, respondeu-me que normalmente é sempre muito calmo por lá. Percebi que ele não estava muito confortável enquanto conversava comigo, talvez por estar em horário de trabalho ou por ser tímido, ou ainda, quem sabe, por estar me achando uma pessoa meio duvidosa.  Despedi-me e resolvi ir embora, devido à circunstância não muito favorável e ao horário, pois ainda deveria ir ao dentista antes de ir ao Campus do Vale. Atravessei a Av. Mauá, novamente com certa dificuldade, e segui em direção a Rua Uruguai, onde eu deveria pegar o ônibus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário